quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Por um pouco mais de poesia!


Acho que eu estava na sexta série do colégio quando fui para uma espécie de "final" do concurso de poesia e declamações do Rosário. Era uma função! Nas aulas de português a gente ouvia os colegas declamarem um poema que era de livre escolha ou a sua própria poesia. Depois a turma escolhia dois representantes: um com poesia de autoria própria e outro só pela declamação.

Bom, eu sempre fui da função no Rosário: líder de turma, grêmio estudantil, coordenadora de gincana, oradora da formatura, etc! Também foi lá que inventei de fazer teatro...Mas voltando ao concurso de poesia...A minha turma (ah que saudade de todos!!) me escolheu para representá-los na final do concurso que seria com todas séries no salão de atos (que por sinal tem umas cortinas vermelhas de veludo antiguissímas mas lindas!).
E a poesia que declamei (interpretei, sei lá que raio de definição usar) foi Metade de mim, do Oswaldo Montenegro. Eu tinha apenas dez anos, mas lembro que escolhi ela porque na época tinha me identificado...engraçado(ou não!), 21 anos depois, fui ler ela novamente, lembrei desse dia e me identifiquei novamente!


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

(Oswaldo Montenegro)



P.S: Se quiserem ouvir uma bonita declamação abre esse link (só não repara na foto bagaceira de fundo!):http://artinline.bighost.com.br/luzes/luzesmetade.htm

Por um pouco mais de poesia na vida de todos, e na minha também!

3 comentários:

Miq disse...

que bom seria se todos tivessem as duas metades de amor, né nati?

Soninha disse...

Naty, aos 10 anos de idade já tinhas uma sensibilidade do tamanho do mundo.

Só uma observação... não foste ler ela "21" anos depois... ou estarias com 31...

Beijos

Natália Vitória disse...

é verdade soninha, aindo to no dois ponto um...falta um pouco pra eu me tornar balzaquiana...hehehe...