domingo, 13 de junho de 2010

Homem carpinejar: uma resposta a mulher perdigueira

Recebi este e-mail de uma queridissíma amiga, que literalmente me conhece desde criançinha!
Vou compartilhar com meus raros leitores do Blog, e no final dele vocês terão minha resposta/ comentário.

*

Gurias,


Mando este texto que achei M A R A V I L H O S O para todas as mulheres fundamentais na minha vida. Que dividem, já dividiram ou ainda vão dividir as fantásticas e terríveis coisas que os homens (sempre eles) nos fazem compartilhar.
Ainda que algumas de nós (né natália) não se assumam perdigueiras, impossível não se identificar com um mínimo detalhe.


Enfim, um texto para todas nós que sempre amamos demais!


beijos




QUERO UMA MULHER PERDIGUEIRA
Fabrício Carpinejar




Meus amigos reclamam quando suas namoradas o perseguem. Lamentam o barraco do ciúme, a insistência dos telefonemas para falarem praticamente nada, o cerceamento dos horários.
Sempre as mesmas tramas de tolhimento da liberdade, que todos concordam e soltam gargalhadas buscando um refúgio para respirar.
Eu me faço de surdo.
Fico com vontade de pedir emprestada a chave da prisão para passar o domingo. Acho o controle comovente. Invejável.
Não sou favorável à indiferença, à independência, ao casamento sartreano. Fui criado para fazer um puxadinho, agregar família, reunir dissidentes, explodir em verdades. Duas casas diferentes já é viagem, não me serve.
Aspiro ao casamento pirandelliano, um à procura permanente do outro. Sou um totalitário na paixão. Um tirano. Um ditador. Não me dê poder que escravizo. Não me dê espaço que cultivo. Não me eleja democraticamente que mudo a constituição e emendo os mandatos.
Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando.
A mulher que ninguém quer, eu quero. Contraditória, incoerente, descabida. Que me envergonhe para respeitá-la. Que me reconheça para nos fortalecer.
A mulher que não sabe amar recuando e não tolera que eu ame atrasado. Que parcele em dez vezes seu dia, que não pague a conversa à vista na hora do jantar, que não junte suas notícias para contar de noite como um relatório. Admiro os bocados, as porções, as ninharias. Alegria pequena e preciosa de respirar rente ao seu nariz e definir com que roupa vou ao serviço.
O amor é uma comissão de inquérito, é abrir as contas, é grampear o telefone, é cheirar as camisas. É também o perdão, não conseguir dormir sem fazer as pazes.
O amor é cobrança, dor-de-cotovelo, não aceitar uma vida pela metade, não confundi-la com segurança. Exigir mais vontade quando ela se ofereceu inteira. Enlouquecê-la para pentear seus cabelos antes do vento. Enervá-la para que diga que não a entende. E entender menos e precisar mais.
Quem aspira ao conforto que se conserve solteiro. Eu me entrego para dependência. Não há nada mais agradável do que misturar os defeitos com as virtudes e perder as contas na partilha.
Não há nada mais valioso do que trabalhar integralmente para uma história. Não raciocinar outra coisa senão cortejá-la: avisá-la para espiar a lua cheia, recordar do varal quando começa a chover, decorar uma música para surpreendê-la, sublinhar uma frase para guardá-la.
Sou doido, mas doido varrido. Bem limpo. Aprendi a usar furadeira e agora entro fácil em parafuso. Quero uma mulher imatura, que possa adoecer e se recuperar do meu lado. Uma mulher que me provoque quando não estou a fim. Que dance em minhas costas para me reconciliar com o passado. Que me acalme quando estou no fim do filtro. Que me emagreça de ofensas.
Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém.
Quero uma mulher que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonado para nunca desmerecê-la, que esteja apaixonado para não diminuí-la aos amigos.

*

Querida amiga,

Eu me identifiquei com vários, praticamente todos detalhes! Hoje eu não me assumo uma perdigueira como tu bem sabe, e por isso abriu parênteses "(né natália)". Porém, já fui uma perdigueira! Sim, com um namorado que muitas conhecem, e não me importo nenhum pouco em dizer quem é: Jorge Igor. Explicitei o nome dele porque muitos de vocês sabem que comi o pão que o diabo amassou nesse relacionamento. Tá gente, não vou negar, até teve uns momentos bons. Mas na balança o lado negativo pesa mais que o positivo.

Meu objetivo aqui não é falar desse namoro que morreu e já está sepultado graças a Deus. Aliás, graças a este namoro eu aprendi a me valorizar, me cuidar mais, ou seja, aprendi a ter amor próprio! Este foi o grande aprendizado que o Jorge me deu (Obrigada! Se nunca agradeci, agradeço agora).

Voltando ao "perdiguismo"... Acho tudo isso muito lindo. Sério! Além de ser mulher sou de peixes, sou daquelas ciumentas, daquelas que se entregam, doida e romântica! Não sei se tive "azar" em ter sido perdigueira com o homem "errado", mas desta experiência o que posso dizer é que não vale a pena ser assim. Falo isso porque com o último namorado que tive (que não foi o já citado acima) o perdiguismo não aconteceu.

Talvez, tenho quase certeza, o "problema" todo está em achar/encontrar um "Homem carpinejar". Um "homem mesmo". Eu não encontrei. Também não estou a procura. Mas caso isso aconteça sei que basta se apaixonar para o perdiguismo começar!

E vamos amar, pois amar demais "nunca é demais"!

Beijos!

3 comentários:

Liege Freitas disse...

Assino em baixo!

Helenira disse...

ai ai, depois de ter escrito no meu blog algumas coisas sobre sexta-feira cheia de amigos num barzinho, estar em casa sozinha, por ter me tronado uma perdigueira, chorei ao ler esse texto, teu relato, tudo que aqui esta! esses seculos de omissao ainda nos fazem pagar o preço!
beijos

Letícia Nunes disse...

aiiiiiiiiiii
quem não quer ser naturalmente perdigueira e ainda para melhorar poder ser admirada por isso??
Hummm eu quero! hehe