sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sou campeão de TUDO, e você Natália?

Ontem assisti a propaganda do Inter sobre o centenário do clube. Nossa, aquele velhinho sentado, com aquele olhar acolhedor, aquele óculos de armação antiga, o sofá, a espera pela família. Enfim, aquele velhinho me lembrou o seu Jerônimo, meu avô. Droga! Me deu uma saudade tãooo grande. Um filme muito gostoso e feliz passou-se pela minha cabeça. Aquele velhinho (pelo menos pra mim, não sei se minha família vai concordar) é muito parecido com ele.

Fiquei recordando da minha MARAVILHOSA infância ao lado daquele que era praticamente uma personagem. Andava arrastando os pezinhos com suas pantufas pela casa. Sentava-se em sua poltrona, na sala, e ficava assistindo televisão e vendo suas filhas jogarem carta. Dançava com os ombros e brigava com a gente porque queria tomar espumante, então colocavámos Sprite na taça e ele tomava feliz. E os verões? Ah...não tinha um em que não fossemos para Capão da Canoa. Era aquela função, a casa tinha que ser grande, para caber toda família, assim como o carro dele, sempre uma caminhonete, lembro perfeitamente da Parati prata que meu primo dirigia para levá-lo a praia. Já em Capão era obrigatório irmos jantar no "Xis do Remi".

Também não esqueço que ele chutava o Charles, meu cachorro (hoje um outro velho), e quando minha dinda percebia chamava a atenção dele: "Pai, o que o senhor tá fazendo?". Ele respondia: "Nada minha filha, que cachorro bonitinho (passando a mão no cusco)"....hahahahaha.... Mas a melhor de todas, com certeza, foi a vez em que passeamos de pijama no centro. Sabe aquela história que todo mundo tem e que a mãe vai contar pro namorado? Dos que tive todos conheçem esta:

Da Duque à Jerônimo: um passeio de pijamas

Meu avô já estava doentinho e passava uns dias em Porto Alegre. Minha dinda era a Defensora Pública Geral do Estado, a sede da Defensoria ficava na Jerônimo Coelho, e nós já moravámos na Duque de Caxias. Até aí tudo bem... Eu era uma pirralha, acho que nem seis anos tinha ainda, estava em casa com ele, os dois de pijama, eu com meus cabelos bagunçados, tipo Elba Ramalho, com uma legitíma "juba". Até que ele pediu para ir falar com a filha. O que eu fiz? Levei ele. Saímos os dois e pijama e pantufas caminhando pelo centro até chegar na defensoria!

Muitas histórias, que assim como a vida de todos nós, dariam um livro. O fato é que a morte de meu avô foi a primeira grande perda que tive na vida. Eu tinha oito anos. E não esqueço da noite em que a tia Cleci entrou na casa dele, em Passo Fundo, e deu a notícia do falecimento. Estavámos eu e mais dois tios. Foi jogo rápido. Ela só tinha ido lá pegar umas roupas porque minha mãe iria arrumar meu avô para colocar no caixão. Eu não chorei, na verdade não estava entendendo nada. Fiquei observando meus tios. Queria falar com minha mãe ou meu pai, mas nenhum deles estava ali. Ninguém me explicou nada. Morreu? Como? Roupas pra que??

A "ficha" só foi cair depois. E foi vendo um cemitério cheio, acho que tinha uma bandeira da Brigada Militar, mas lembro perfeitamente da bandeira do PDT e do Internacional no caixão. Foi assim que me despedi fisicamente (só fisicamente!) do Capitão Jerônimo de Oliveira, "o Brizolista", "o Capitão da Brigada Militar", hoje nome de rua em Passo Fundo, mas pra mim o seu "Jeje", um coloradasso! Ele passou o amor pelo time para a família, mas amou e construiu sua grande família ao lado de uma gremista. Um colorado que aceitou com carinho os poucos gremistas da casa.

Depois de tudo isso se passar pela minha cabeça pensei: pode estar aí uma das explicações do "porque" sou gremista! É que aprendi cedo a lidar com perdas. Não tenho TUDO. Minha própria família fica perguntando: "Sou campeão de TUDO, e você Natália?". Não sou campeã de tudo, perco no jogo e também perco na vida, tenho HUMILDADE em reconhecer quando jogo mal, seja em campo, seja no trabalho, em casa, na faculdade. Já fiquei na segunda divisão na bola e no amor. Futebol não é a VIDA de muita gente? Então, dos oito aos 22 anos, de lá pra cá me certifico de que seria muito contraditório se eu não fosse gremista! Por que minha VIDA é assim, e pra mim ser gremista é ser assim!

Aos colorados deixo meu parabéns. Aos pouquissímos colorados que amo deixo a própria frase do clube, mesmo sendo gremista, assim como o seu Jerônimo, sei que nada vai nos separar!

3 comentários:

Anônimo disse...

oI bAH! Sabe q ando sem tempo e nem internet, de vez em quando alguem comenta alguma coisa e eu fuço. Agora a pouco falaram deste teu escrito, q a Juca chegou a chorar... Vim ler e lembrei que o vô tb adorava cutucar a gente com um palito, é assim q vc faz, nos cutuca a recordar o passado, a refletir sobre o tempo, a familia, a vida. Ri muito lendo e chorei tb. Saudades, te amo! Bjs Ana Pula
PS: da Babi tb.
Ps do Ps: Nem sei como se posta aqui. Espero não ter feito nada errado!

Soninha disse...

Que lindo, Naty!

Só que eu acho que tu és colorada... lá no fundinho! Porque lá no fundo tu lutas e queres ser campeã de tudo, também!

Anônimo disse...

Nati: Muito bonito teu texto. Acho que todos da família que leram tuas belas palavras conseguriam reviver muitos sentimentos, como a saudade,a união, o amor... e repensar o que significa a instituição "FAMÍLIA" Ri e chorei, pois percebi que nossa infância foi repleta de bons momentos, de lições de vida que levaremos pra sempre. Gostaria que todas as crianças pudessem ter a infãncia que nós tivemos, cheia de amor, carinho, compaixão, generosidade e uma família acolhedora por perto. Abraços!!! PS: Lembra que a Camila sentava no sofá da sala e ficava fazendo caretas pro Vô no outro sofá aí ele chorava, coitadinho, que maldade!!! Kelly